Reminiscências- parte final

3 de abr. de 2011










Está tudo terminado: nossa juventude, nossa amizade e a farsa desta reunião. O que nós estávamos pensando? Que o passado poderia voltar? Que nossos sonhos e ilusões ainda estivessem vivos? Estão mortos tanto quanto "ele". Mas se é assim, porque tenho medo? Por que os olhos inquisidores de Bete me perturbam?

Já estamos todos alcoolizados, prometendo não nos separar, continuar mantendo contato, fazendo um pacto de amizade como se fôssemos adolescentes. Não aguento mais isso! É um alívio quando pagamos a conta e começamos a nos despedir. Eu olho para todos. Por que sinto esse aperto no peito, como se essas pessoas fossem importantes para mim?

Eu só quero ir embora e fugir do passado, antes que a Bete me acuse de algo. Ela se despede de todos e eu também. Quero sair sem que seja preciso me aproximar dela.

- Roberto.

Eu me viro e vejo todos indo embora, ainda se cumprimentando. Bete é a única parada diante de mim, calma, com um sorriso triste nos lábios. Como ela está bonita! Não há mais como escapar. Se ela tem algo a me dizer, que diga!

- Sim, Bete.
- Roberto, você conversou tão pouco comigo hoje.
- Conversei pouco com todos.
- Você costumava falar mais. 
- Mas os tempos agora são outros. O passado não me interessa mais.

Ela se aproxima e me olha nos olhos.
- Mas a mim interessa.

Tento não parecer amedrontado e espero.
- Há algo que preciso te dizer há muito tempo mas que nunca tive coragem.

Não há mais como fugir, estou encurralado. Eu respiro enquanto os olhos dela me fulminam. Ela abre os lábios e eu fecho os olhos.

- Roberto, eu sempre te amei...
FIM

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