A Esquina

13 de fev. de 2008












“-Pode me dizer, por favor, que caminho devo seguir para sair daqui?
-Isso depende do lugar para onde você deseja ir-respondeu o gato.
-O lugar para onde desejo ir? Francamente, para mim tanto faz.
-Nesse caso, tanto faz o caminho que você seguirá.
-Contanto que eu chegue a algum lugar...
-Chega, na certa! Contanto que ande o tempo necessário.
-Alice viu que não poderia negar isso.”

Lewis Carrol - Alice no País das Maravilhas



A esquina era em um trecho muito bem iluminado, onde quase todo mundo conhecia. Uma das ruas que formava a esquina seguia de forma oblíqua saindo da cidade e penetrando em uma mata escura e misteriosa.
A menininha chegou até o ponto onde se sentia segura e abraçou sua boneca. Mais um passo e ela estaria fora do alcance das luzes dos postes. Ela esticava o pescoço tentando olhar o que havia no final da rua. Seus pés não se moviam.
-Vocês sabem para onde esta rua leva? Perguntou, virando o rosto para algumas pessoas sentadas embaixo das marquises e bem iluminadas pelas luzes.
-Nunca fomos lá. Respondeu um deles.
A menina cerrou um pouco os olhos para tentar vê-los, pois apesar de estarem iluminados pela luz, ela não conseguia distinguir seus rostos. Era como se estivessem desfocados, deformados e... incompletos?
-Eu queria tanto dobrar esta esquina, saber o que há no final da rua. Dizem que é algo surpreendente. Disse ela.
- Pois deve ser algo terrível porque todos que partiram por esta esquina, rumo à escuridão, jamais retornaram. Respondeu um dos que permaneciam na luz, também cerrando um pouco os olhos para tentar ver a menina. Ela lhes parecia feia, mas isso não os incomodava. Um deles notou que a sombra da menina parecia ter crescido.
A jovem estava pensativa, indecisa e confusa. Olhou novamente para seus interlocutores. Estava mais difícil ainda de distingui-los. Uns permaneciam calados, outros tentavam impedi-la de continuar.
-Não vá! É terrível! As pessoas vão e não voltam.
A jovem percebeu que eles tinham vozes de crianças, apesar de não serem. Procurou sua boneca e não a encontrou.
-Vocês nunca imaginaram que as pessoas não retornam porque lá pode ser um bom lugar para estar. Talvez estejam felizes. Talvez não queiram voltar. Disse a moça, ao mesmo tempo em que levantava o pé, pronta para dar outro passo.
-Temos medo!Nunca fomos lá! Diziam os vultos que permaneciam na segurança da luz.
A mulher deu mais um passo a frente. Agora, ela lhes parecia bonita. Ela sentia medo, mas continuava. Deu mais um passo e outro... e foi aos poucos sumindo dentro da escuridão.

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