Somewhere in time- parte dois

24 de ago. de 2014










Londres, algum lugar no futuro

Alexandre acorda assustado. Novamente a noite foi repleta de pesadelos. Ele olha ao redor para ter certeza de que está em casa. Sua mão faz um gesto e aciona à distância o teclado virtual do computador. O relógio tridimensional é projetado acima da cama, são dez horas da manhã. Alexandre aciona outro botão e inicia a programação do café-da-manhã. Ao chegar à sala um holograma é acionado; é sua mãe: “ filho, seu pai e eu fomos à casa de sua avó, retornaremos ao anoitecer. Hoje é domingo, divirta-se.” 

Alexandre já não se incomodava mais com os conselhos de sua mãe para que se divertisse. Ele tinha acabado de completar quinze anos e não fazia nada que os adolescentes comuns costumavam fazer. Os amigos de Alexandre gostavam de utilizar o simulador de realidade para várias coisas. Nos finais-de-semana eles o usavam para jogar, desde futebol até simulações de aventuras espaciais. Desde criança, Alexandre era diferente. Frequentemente, ele parava durante uma determinada situação e olhava ao redor, observando. Quando o perguntavam, ele dizia que tinha a impressão de que aquilo já havia acontecido com ele antes, ou que ele já havia estado naquele lugar. Mais tarde ele descobriu que aquela sensação se chamava deja-vu.

Alexandre foi aos poucos se tornando mais isolado, seus amigos de infância se distanciaram. Todos achavam que ele era autista, inclusive seus pais. Alexandre, por sua vez, não fazia questão de amigos, ele achava as pessoas simplistas demais, conformistas, presas em seus mundinhos fechados. Ele gostava de ler, era o melhor aluno da escola, embora fosse indisciplinado e irônico com os professores. Acabou fazendo alguns amigos, mas nunca houve uma amizade profunda e verdadeira. Enquanto eles usavam e abusavam do simulador de realidade, Alexandre gostava da realidade em si. Nas férias, ele gostava de ir aos poucos reservatórios ecológicos da Inglaterra e procurar espécies de plantas e animais praticamente extintos. Na escola, as sensações de deja-vu se aprofundaram. Durante as aulas de história, Alexandre sentia como se nomes e lugares históricos estivessem relacionados a ele, era como se algum dia ele tivesse estado naqueles lugares e era uma sensação maravilhosa. Porém, algumas coisas o assustavam. 

Os pais de Alexandre chegaram a achar que ele era esquizofrênico, pois desde os oito anos de idade ele comentava que era perseguido por homens estranhos que o vigiavam, comunicando -se entre si, como se estivessem vigiando seus passos. Seus pais chegaram a informar a policia e a contratar seguranças. Mas, a própria policia acabou abandonando o caso dizendo que se tratava da imaginação do menino e os seguranças, estranhamente, desapareciam ou pediam demissão e nunca mais eram vistos. O pior é que a medida que Alexandre crescia, ele tinha a impressão de que as perseguições aumentavam, que ele era vigiado durante todo o dia. 

Alexandre decidiu então compreender o que estava acontecendo. Ele sabia que para alguém com seu nível de inteligência não seria difícil descobrir; ele estava enganado. O que ele encontrou foi uma teia de mistérios e conspirações governamentais, lendas urbanas e artigos ridicularizados pela imprensa. Havia algo grande sendo encoberto, um segredo compartilhado por todas as nações do mundo, como um pacto de sobrevivência. Alexandre passou a dedicar sua vida a essas pesquisas. Ele descobriu vários códigos secretos na Internet que nenhum hacker comum seria capaz de descobrir. A cada descoberta ele ficava cada vez mais aterrorizado e extasiado ao mesmo tempo. Como a humanidade desconhecia todas aquelas informações? O que aquilo tinha a ver com ele?

O último pesadelo que Alexandre teve antes de acordar naquele domingo não foi como os outros. Ele costumava sonhar com o passado, mas dessa vez ele sonhou com o futuro, como se algo estivesse predestinado a acontecer com ele. No seu sonho, havia uma um artefato, semelhante a uma cápsula. Ele não conseguiria pesquisar esse assunto em seu computador particular. Alexandre tomou o café, deletou a holomensagem de sua mãe, pegou seu skate magnético e foi direto à ciberbiblioteca de Londres. Durante o trajeto ele observava os pedestres, homens e mulheres, pois já havia se acostumado a ser observado pelos espiões que, discretamente ligavam seus chip-celulares depois que ele passava. Ele começou a achá-los ridículos. Será que achavam que ele não percebia? Porém, durante os últimos dois dias, Alexandre não percebeu ninguém o vigiando. Era muito estranho, será que haviam desistido? Será que continuavam o vigiando, mas agora de uma forma eficiente? Ou pior, será que realmente não era tudo fruto de sua imaginação? Não, ele sabia que não estava louco.

Ele acessou um dos computadores da ciberbiblioteca pública, que estava quase vazia. Antes de efetuar o comando que daria acesso às informações proibidas, Alexandre hesitou e olhou ao redor, apesar de estar usando o modo “privado” das holomensagens interativas. Seus olhos arregalaram-se. Ele havia descoberto algo que iria transformar sua vida para sempre e talvez o mundo.

Continua...