O Prisioneiro- parte 5

28 de abr. de 2014


A Prisão do Espírito












Ao se dar conta de seu estado, o prisioneiro desejou ser algo mais do que aquilo. Se ele não era seu corpo, nem seus pensamentos, o que ele poderia ser? Ele imaginou que poderia haver uma essência, e que essa essência poderia ser livre algum dia. De certa forma já haviam lhe prometido a liberdade, embora eles a chamassem por outro nome. Agora, que estava acordado, ele não conseguia entender esse paradoxo. Para se libertar era preciso estar preso às regras.

Foi-lhe ensinado, por forma de enigmas, que todos estavam presos na grande prisão pelo mesmo crime, que todos foram julgados pelo mesmo juiz, condenados pelo mesmo júri, mas que somente poucos se libertariam. Foi-lhe ensinado, também através de enigmas, que corpo e mente jamais poderiam se libertar. Somente a essência teria esse destino mas era preciso seguir cegamente as instruções do grande diretor do presídio. Porém, o prisioneiro não sabia ao certo se o diretor existia ou não. Como então poderiam ser livres algum dia? Do que adiantava seguir tão rígidas normas? Essa loucura precisava ter um fim.

O prisioneiro tentou libertar a alma de seus companheiros, livrando-os de tão ridícula ignorância. A reação foi a mais violenta possível. Como ele poderia querer os tirar a maior esperança de liberdade que possuíam? (Embora eles nem soubessem que estavam presos). Eles tinham fé no administrador de suas vidas. Uma instituição tão grande não poderia funcionar sem um diretor. Isso era inconcebível.

Como não podia libertá-los de sua suposta ilusão, afinal de contas o prisioneiro tinha dúvidas até de suas próprias dúvidas, ele passou a procurar meios de libertar sua própria essência, embora ele mesmo tivesse dúvidas sobre sua existência. Pelo menos sobre algo ele já havia se conformado. O corpo jamais poderia sair daquele presídio. Ele teria que se conformar em acreditar de que um dia talvez sua essência se libertasse.

Então, aos poucos, a cela que era o invólucro de seus pensamentos foi se enfraquecendo, possibilitando a saída do prisioneiro. Ele finalmente saberia como era a liberdade.

Continua...

O Prisioneiro- parte 4

7 de abr. de 2014










A Prisão da Mente

E ele que se orgulhava tanto de sua racionalidade! Ele julgava conhecer toda a prisão a sua volta até os mínimos detalhes. Tolo! Ele nem ao menos sabia que estava preso. O prisioneiro não podia confiar em seus conhecimentos. Agora que estava desperto, ele via que tudo o que aprendera era para mantê-lo sobre controle. Tudo parecia ser guiado, como se fosse para a manutenção de um segredo.

Então ele tentou se recordar de quando tudo havia começado, pois ele imaginava que em determinado momento de sua vida, sua mente foi aprisionada. A primeira lembrança que ele tinha era a de seus antigos guardiões, aos quais ele aprendera a chamar por outros nomes. Naquela época sua mente já estava aprisionada a regras, mas ele sentia que muito antes disso ela já era prisioneira. Porque tanta injustiça? Já não bastava ele estar preso corporalmente? A cada dia de sua pena, sua mente era aprisionada mais e mais a regras físicas e sociais. 

Agora que ele ansiava pela liberdade, pôde perceber que até mesmo seus sentimentos eram uma forma de aprisionamento, uma forma de controle. Ele lembrou-se da primeira vez em que sentiu amor. (Ou será que ele tinha sido induzido a sentir)? Ele amou uma prisioneira. Naquela época ele não sabia que estava encarcerado e tampouco que todos à sua volta também estavam. Ele sentiu-se imensamente feliz com aquela sensação, embora às vezes a dor e a tristeza, as quais ele já sabia dar nome, viessem em companhia do amor que ele sentia (ou julgava sentir).

Primeiro ele amou a cela da prisioneira. Era um corpo diferente do seu. Uma cela que atraía a sua de uma maneira quase incontrolável. Depois ele amou a mente da prisioneira e finalmente o espírito. Como ela também estava alheia à sua situação, logo os dois caíram na armadilha do carrasco oculto. Juntos, formaram outros prisioneiros. Somente agora, livre de sua venda psíquica, ele pôde encarar a dura realidade. O amor era um artifício para a produção de novos prisioneiros. Através dos próprios detentos, novos encarcerados entravam para a grande prisão.

Aquilo precisava acabar. Sua mente ansiava por liberdade. Seus pensamentos queriam voar. Ele tentou libertar a mente dos outros prisioneiros. Mentes presas a um mundo de fantasia. Porém ele falhou. Todos chegaram à conclusão de que ele havia enlouquecido. O prisioneiro foi espancado e humilhado por todos.

Quando ele percebeu que não podia libertá-los da mentira, o prisioneiro dedicou-se a lutar pela liberdade de sua própria mente. Foi com grande horror que ele descobriu que sua mente também era prisioneira em seu corpo, o invólucro de seus pensamentos, sua cela.

Seus pensamentos não poderiam se libertar se ele próprio não se libertasse da prisão infinita. E isso o desanimou. Ele só podia esperar por justiça. Seria o tempo um juiz justo?

Aos poucos sua cela foi enfraquecendo e o prisioneiro pôde sair sem culpa. Mas seus pensamentos teriam ido com ele?

Continua...